Um tanto bem maior...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Esses dias recebi um e-mail. Mas ao contrário do que costumo fazer com as inúmeras bobagens e absurdos que me mandam, dessa vez resolvi retrucar.
No e-mail falavam sobre a atual candidata a Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff. Deixo claro que não sou petista, nem decidi meu voto ainda. Respeito aqueles que tem opinião contrária a minha, mas tenho o direito de dizer o que penso.

No e-mail, acusações mal explicadas, obviamente geradas por seus oponentes, acabam por ilustrar erroneamente a história de vida de Dilma Rousseff. Para os que não estão por dentro da história do nosso país, é fácil apenas acreditar e quem sabe até repetir as bobagens que rodam pela internet. E como eu não sou nenhum papagaio amestrado me vi obrigada a responder. Repassei o e-mail da mesma forma, mas dei uma nova visão.

Espero que consiga meu objetivo. Leiam com calma!
Obrigada.



"NÃO QUERENDO entrar numa discussão, mas sabendo da possibilidade de que seja gerada, já deixo claro que não estou tentando convencer ngm à nada. Só acho importante dizer que esse tipo de e-mail (taxativo e mal explicado) convence facilmente à quem, de fato, não tem nenhuma idéia do que se passava no Brasil nesta época, ou aprendeu apenas a ler, ouvir, e repetir, sem refletir, sem questionar. Gostaria de dar apenas uma outra visão, espero que sirva.

Não justifico a violência usada pelos militantes da época, mas acredito que se o espírito de mudança, coragem e atitude ainda existisse, talvez nosso país não se encontrasse da forma que está.

Cinquenta, sessenta anos atrás não se tinha o livre arbítrio de ler um jornal ou conversar com um amigo em praça pública. Muitos foram presos sem explicação. Alguns realmente faziam parte da oposição, dos revolucionários, que tentavam, mesmo que isso pudesse custar suas vidas, fazer algo por toda a nação brasileira que se encontrava trancafiada em seus corpos e suas casas por ordem incontestável do governo garantida pelo exército. Outros eram apenas cidadãos comuns, que levantavam cedo para trabalhar, e rezavam à Deus que não fossem confundidos com militantes.

Jornalistas eram presas fáceis. Não precisamos ir muito longe para citar casos como o de Wladimir Herzog, que foi encontrado morto, de joelhos, com uma corda no pescoço, nitidamente assassinado. Entretando, consta suicídio. Confundido e assassinado. Arrancado de dentro de sua própria casa, sem nenhuma explicação ou motivo. Virou mártir. Sem querer. Sem saber.

Ou então o caso do jornalista Antonio Maria, que após ser repreendido e censurado pelo que escrevia, teve suas mãos cortadas pelas forças do DOI CODI( órgão de repressão do governo da época) lançando a famosa frase "tolos! eles pensam que escrevo com as mãos!".

Sem contar milhões de cidadãos que desapareceram e jamais foram encontrados. Milhões de arbitrariedades e assassinatos cometidos e jamais pagos por aqueles que deveriam cuidar do povo.

As arbitrariedades do governo naquela época exigiam respostas. Exigiam reação. A única diferença é que tínhamos em meio à nossa população mentes solidárias e corajosas que entravam suas vidas à luta por um país melhor. Entregavam suas vidas pelas vidas de todos. Porque buscavam para si, para seus filhos e para todo e qualquer cidadão que viesse ao mundo o mínimo de dignidade e condição de vida. Mesmo que isso viesse a colocar em risco suas vidas. E muitos tiveram também que tirar vidas.

Quem nunca ouviu falar de Che Guevara? Se 40 anos atrás existisse internet provavelmente seu nome estaria sendo mencionado como o de Dilma. Assassino! Aliás, muitos desavisados que querem dar opinião mesmo sem ter embasamento nenhum costumam repetir esse tipo de asneira. Sim, realmente quem tira a vida de outra pessoa é um assassino. E Guevara realmente tirou. No caso da revolução cubana, Guevara (que nem cubano era, e sim argentino) lutou para livrar o povo cubano da exploração americana. E não sabemos quantas vidas foram tiradas, mas uma coisa é indiscutível: esse era o único meio de conseguir seu objetivo de levar à Cuba a chance de ser um povo livre e digno. O fato de não sermos cubanos não faz com que o sofrimento desse povo fosse menor, e não sermos cubanos não quer dizer que não precisamos pensar como. Afinal, cubanos tbm são feitos de carne e osso, nascem como qualquer americano, sentem fome como qualquer inglês, precisam de estudo como qualquer suíço, e ninguém tem o direito de dizer quem pode ter uma vida legal e quem merece ser tratado como rato.

Seguindo o pensamento, devemos lembrar aqui os milhões de brasileiros que morrem de fome, de frio, de sede, de desespero. Milhões que procuram emprego e não conseguem, por mais habilitados que sejam. Milhões que dependem do governo instalar escolas públicas para conseguir vencer na vida, mas passam suas vidas esperando, esperando...e se virando como podem. O fato é que muitos morrem daquilo que é a consequência da corrupção dos engravatados. Isso não tem valor? Não deixa você idignado? Os governantes do nosso país que roubam milhões por hora, deixando também milhões de vidas ao léu, não são assassinos?

Dilma Roussef, uma militante que dedicou sua vida à política, que lutou contra o governo ditatorial em nome dos brasileiros, por um futuro melhor para o povo é uma ASSASSINA. Mas aqueles que dormem tranquilamente em seus luxuosos travesseiros comprados com dinheiro roubado, viajam em jatinhos particulares, levam à família para viajar pra Europa, com a verba que sai de nossos bolsos para garantir a escola e o hospital de nossas famílias, não são nem mencionados no ról de assassinos. Aliás, não são nem mencionados, quanto mais julgados.

Não precisamos ir muito longe pra observar que em 1992, Fernando Collor de Melo, foi expulso da presidência da república por corrupção descarada. Mas já em 2006 voltou ao cenário político como SENADOR de Alagoas. Impressionante?!? Mas não recebi nenhum email de nenhum revoltado que quisesse alertar os brasileiros sobre tal assunto.

Queremos fazer justiça? Esclarecer o povo sobre riscos e personalidades que não merecem nossa confiança? Queremos nos colocar como cidadãos conscientes ao invés de manipulados? Ok. Acho excelente a proposta. Mas sejamos ponderados, questionadores. Não sejamos apenas papagaios repetidores de qualquer informação. Acho ridículo uma pessoa que repassa um e-mail desses, sem ter conhecimento mínimo absolutamente algum, sem fazer nada na sua vida para melhorar a vida do próximo (e não estou dizendo que é o caso de quem escreveu ou me reenviou, estou apenas ilustrando o pensamento). Não sou nenhuma expert em política ou em história, admito. Mas tenho coração, aprendi o que é solidariedade e dou valor à toda e qualquer vida. Seja um mendigo ou um senhor de idade, um cachorro ou uma criança, um negro, um branco, um homossexual, um rico, um pobre, careca ou desdentado.

Décadas atrás iniciou-se uma estratégia de alienação do povo para que se tornasse mais fácil manipular a massa e atingir objetivos particulares de um determinado setor social. A arrogância da elite está pautada naquilo que muitos acreditavam se definir por "esperteza e poder', mas que eu reconheço como "safadeza e individualismo". Traçaram a estratégia de emburrecer o povo para que pudessem continuar fazendo o que quisessem sem que o povo reagisse como reagiram na década de 60. E não é que conseguiram? Agora nós é que teremos que decidir. Seremos como no clipe do Pink Floyd? Robôs sem capacidade de refletir e decidir. Sem capacidade de pensar. Apenas ouvindo e repetindo.

Não queremos tanto nos colocar como diferentes? Não tentamos tanto nos diferenciar? Não ficamos tão revoltados quando somos comparados à outra pessoa? Então pq não nos tornarmos realmente diferentes? Pq não indagar sobre os fatos ao invés de apenas aceitá-los? E digo mais, pq não lutar para modificá-los?

Preguiça? Vontade de surfar? Vai passar aquele filminho bom? Ou é medo? Medo de não conseguir? Medo de envolver. Medo de desistir? Ou de se tornar um guerreiro do povo? Um revolucionário... quem sabe um assassino.


Não apenas repasso o e-mail anterior, como coloco uma nova visão.

Deixo claro q não sou dona da razão, e como toda reflexão gera uma nova reflexão, também me admito mudar de opinião. Basta alguém sabe colocar um visão que me convença.

E se tu leu até aqui, já se considere diferente da imensa maioria."

Carolina Bertholini Freudenthal

quinta-feira, 10 de junho de 2010

QUERIDO DIÁRIO...

Os tempos vão passando, a idade vai chegando e já me vejo esquecida dos pensamentos que outrora povoavam minha cabeça. Fico pensando como seria se sempre tivesse feito as anotações em um diário. Todas as dores, os aprendizados registrados no papel. O tempo vai passando, e às vezes precisamos viver mais de uma vez o erro. Muitas vezes a impulsividade nos deixa em maus lençóis. Lembro da época em que não precisava pensar demais na conseqüência dos atos. Época onde mal conseguia diferenciar o lado esquerdo do direito e esperava ansiosamente o dia da semana em que todos da escola podiam levar algum brinquedo de casa. Os bailinhos aconteciam na sala ou na garagem, com muito salgadinho e refrigerante, Gun’s and Roses no topo de qualquer parada, e o maior temor da noite: a toda inocente “vassourinha”.
Dancei “chiquititas” no pátio da escola, lá mesmo onde também dei o primeiro beijo-selinho da vida. Joguei queimada, brinquei de gato-mia, apertei campainha e saí correndo. Menti para os meus pais dizendo que tinha trabalhos escolares só para ir à praia durante a semana com as amigas.
Separava com dias de antecedência todos os badulaques necessários para a excursão do colégio e demorava a dormir de tanta ansiedade. Tive grandes amigos homens, mas com toda a certeza são as amizades femininas que se fincaram com maior intensidade em minha vida.
Descobri minha vocação. E de toda aquela confiança na escolha profissional (que eu ouvia gritando dentro do meu coração) surgiu a falsa brilhante idéia da “segurança financeira”. Prendi-me a essa idéia e segui por um caminho sem grandes satisfações pessoais acreditando nesta como a melhor escolha. Grande bobagem! Não é possível encontrar a felicidade no mundo se ela não emanar de dentro de nós.
Morri de amores. E quantas e tantas vezes! Até chorei por isso. Aprendi também, é verdade. Mais e mais a cada amor que vivi. O coração foi machucando, fortalecendo, e impressionantemente, emburrecendo. Minha nossa! Será que o coração não conseguirá tomar uma sábia decisão sequer¿! De fato, a experiência não lhe trás sapiência. Contudo, jamais deixei de acreditar no amor. Mesmo que seja o meu. O amor que eu sei que sinto, que sei que posso dar, dividir, multiplicar.
Sempre espoleta. Vivaz como quem sempre assistiu a tudo de mãos atadas e quando se viu com o poder de vivenciar, esqueceu o freio. Fui com tudo e sem medo, me aventurar na loucura da minha própria vida, do desvendar dos mistérios dos mundo, e vivi intensamente o arbítrio de decidir o que se quer ou o que se descarta. Ceguei de prazer pela liberdade. Talvez por isso não tenha visto tantas coisas importantes no caminho. Não me permitia perder tempo. Boba! Mal sabia que perder poderia significar ganhar. Ainda mais em se tratando do tempo...
Sabe o que eu aprendi¿ Que se sentir respeitado é primordial para a saúde psicológica de qualquer um e principalmente para o exercício diário da sanidade mental. Ser respeitado não pela posição social ou tamanho do seu carro. Não por terno e gravata ou cargo na carteira de trabalho. Respeitado pela validade de suas palavras. Pela credibilidade de suas atitudes.
Aprendi que estar só e sentir-se só são coisas bastante distintas. Sentir-se só muitas vezes é a conseqüência de não darmos tempo a nós mesmos, às nossas vontades e desejos, nossos objetivos, nossos medos. Estar só é necessário para que possamos apreciar nossa melhor companhia, ouví-la, dar tempo e atenção, cuidado e carinho.
Defini rumos, caminhos. E os mudei! Demorei, eu sei. Mas enfim, mudei! Nossa, achei que nunca teria coragem. E não é que tive¿! E você pensa que foi fácil¿ Grandes decisões devem ser pensadas, ponderadas, trabalhadas. Foram noites em claro. Muitas regadas à cerveja e vodka com energético, é verdade. E mesmo que eu dormisse, era sempre o mesmo pesadelo: eu tinha asas! Porém, quebradas. E todos voavam, menos eu.
Chorei, sofri. Machuquei e saí ferida. Experimentei sentimentos de raiva, incompreensão, tristeza e decepção. Transformei o resultado desta bombástica mistura em calma, foco, amadurecimento e evolução. Sabe aquelas frases clichês e ditados populares que quase chegam a nos irritar quando surgem em conversas-sermão com nossos pais, ou sobressaem como lições de moral de histórias em filmes e contos¿ Acredite! Dê ouvidos. Cheguei a conclusão, faz tempo, de que por mais que eles se repitam se tornando quase imperceptíveis como o som do caminhão de gás, quando a chegamos a alguma boa conclusão algum destes ditos populares se encaixará perfeitamente. Afinal, por mais difícil que a vida possa parecer, outros já viveram e ainda vivem, aglomerando experiências e tentando, mesmo que na maioria das vezes, em vão, nos poupar de muitos erros e sofrimentos. Entretanto, creio q essa deve ser a grande piada da vida. Aprender a caminhar com as próprias pernas.
Enfim, resolvi aprender a voar. Virar a página dos vôos sem sucesso. Estou tentando ainda. Com vôos baixos, e cautelosos. Mas com a certeza de um destino certo. E finalizo com as palavras de um sábio poeta: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E viva cada novo amanhecer...!

Carolina Bertholini Freudenthal