Um tanto bem maior...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

QUERIDO DIÁRIO...

Os tempos vão passando, a idade vai chegando e já me vejo esquecida dos pensamentos que outrora povoavam minha cabeça. Fico pensando como seria se sempre tivesse feito as anotações em um diário. Todas as dores, os aprendizados registrados no papel. O tempo vai passando, e às vezes precisamos viver mais de uma vez o erro. Muitas vezes a impulsividade nos deixa em maus lençóis. Lembro da época em que não precisava pensar demais na conseqüência dos atos. Época onde mal conseguia diferenciar o lado esquerdo do direito e esperava ansiosamente o dia da semana em que todos da escola podiam levar algum brinquedo de casa. Os bailinhos aconteciam na sala ou na garagem, com muito salgadinho e refrigerante, Gun’s and Roses no topo de qualquer parada, e o maior temor da noite: a toda inocente “vassourinha”.
Dancei “chiquititas” no pátio da escola, lá mesmo onde também dei o primeiro beijo-selinho da vida. Joguei queimada, brinquei de gato-mia, apertei campainha e saí correndo. Menti para os meus pais dizendo que tinha trabalhos escolares só para ir à praia durante a semana com as amigas.
Separava com dias de antecedência todos os badulaques necessários para a excursão do colégio e demorava a dormir de tanta ansiedade. Tive grandes amigos homens, mas com toda a certeza são as amizades femininas que se fincaram com maior intensidade em minha vida.
Descobri minha vocação. E de toda aquela confiança na escolha profissional (que eu ouvia gritando dentro do meu coração) surgiu a falsa brilhante idéia da “segurança financeira”. Prendi-me a essa idéia e segui por um caminho sem grandes satisfações pessoais acreditando nesta como a melhor escolha. Grande bobagem! Não é possível encontrar a felicidade no mundo se ela não emanar de dentro de nós.
Morri de amores. E quantas e tantas vezes! Até chorei por isso. Aprendi também, é verdade. Mais e mais a cada amor que vivi. O coração foi machucando, fortalecendo, e impressionantemente, emburrecendo. Minha nossa! Será que o coração não conseguirá tomar uma sábia decisão sequer¿! De fato, a experiência não lhe trás sapiência. Contudo, jamais deixei de acreditar no amor. Mesmo que seja o meu. O amor que eu sei que sinto, que sei que posso dar, dividir, multiplicar.
Sempre espoleta. Vivaz como quem sempre assistiu a tudo de mãos atadas e quando se viu com o poder de vivenciar, esqueceu o freio. Fui com tudo e sem medo, me aventurar na loucura da minha própria vida, do desvendar dos mistérios dos mundo, e vivi intensamente o arbítrio de decidir o que se quer ou o que se descarta. Ceguei de prazer pela liberdade. Talvez por isso não tenha visto tantas coisas importantes no caminho. Não me permitia perder tempo. Boba! Mal sabia que perder poderia significar ganhar. Ainda mais em se tratando do tempo...
Sabe o que eu aprendi¿ Que se sentir respeitado é primordial para a saúde psicológica de qualquer um e principalmente para o exercício diário da sanidade mental. Ser respeitado não pela posição social ou tamanho do seu carro. Não por terno e gravata ou cargo na carteira de trabalho. Respeitado pela validade de suas palavras. Pela credibilidade de suas atitudes.
Aprendi que estar só e sentir-se só são coisas bastante distintas. Sentir-se só muitas vezes é a conseqüência de não darmos tempo a nós mesmos, às nossas vontades e desejos, nossos objetivos, nossos medos. Estar só é necessário para que possamos apreciar nossa melhor companhia, ouví-la, dar tempo e atenção, cuidado e carinho.
Defini rumos, caminhos. E os mudei! Demorei, eu sei. Mas enfim, mudei! Nossa, achei que nunca teria coragem. E não é que tive¿! E você pensa que foi fácil¿ Grandes decisões devem ser pensadas, ponderadas, trabalhadas. Foram noites em claro. Muitas regadas à cerveja e vodka com energético, é verdade. E mesmo que eu dormisse, era sempre o mesmo pesadelo: eu tinha asas! Porém, quebradas. E todos voavam, menos eu.
Chorei, sofri. Machuquei e saí ferida. Experimentei sentimentos de raiva, incompreensão, tristeza e decepção. Transformei o resultado desta bombástica mistura em calma, foco, amadurecimento e evolução. Sabe aquelas frases clichês e ditados populares que quase chegam a nos irritar quando surgem em conversas-sermão com nossos pais, ou sobressaem como lições de moral de histórias em filmes e contos¿ Acredite! Dê ouvidos. Cheguei a conclusão, faz tempo, de que por mais que eles se repitam se tornando quase imperceptíveis como o som do caminhão de gás, quando a chegamos a alguma boa conclusão algum destes ditos populares se encaixará perfeitamente. Afinal, por mais difícil que a vida possa parecer, outros já viveram e ainda vivem, aglomerando experiências e tentando, mesmo que na maioria das vezes, em vão, nos poupar de muitos erros e sofrimentos. Entretanto, creio q essa deve ser a grande piada da vida. Aprender a caminhar com as próprias pernas.
Enfim, resolvi aprender a voar. Virar a página dos vôos sem sucesso. Estou tentando ainda. Com vôos baixos, e cautelosos. Mas com a certeza de um destino certo. E finalizo com as palavras de um sábio poeta: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E viva cada novo amanhecer...!

Carolina Bertholini Freudenthal