Um tanto bem maior...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Porque" pouco importa.


Todo dia a mesma coisa.

Há décadas a necessidade de tomar ônibus para chegar a algum destino se faz presente em minha vida, e há muito mais tempo, essa é uma necessidade na vida de todos os brasileiros, e de grande parte da população mundial.

De 3 anos para cá, pego ônibus minimamente 2 vezes ao dia. Espero uns 15 minutos até ele chegar, e mais ou menos uns 40, até findar a "viagem". Simples, não?! Não! Nem um pouco.

Na realidade, as coisas são bem diferentes. Em primeiro lugar, 15 minutos de espera se o motorista QUISER parar no ponto. Porque se ele não estiver muito afim, esquece. Nem se estressa. Ele vai passar reto, a toda velocidade, nem vai lembrar de você, ou muito menos saber que você perdeu o emprego porque atrasou meia hora esperando um outro ônibus, ou então que seu filho estava sozinho em casa esperando você voltar do trabalho. E você só vai gritar em vão, e fazer papel de maluca no meio da rua caso resolva se revoltar.

Continuando nossa viagem. Entrou no ônibus? Agradeça a sorte. E se segura bem. Porque é bem capaz que o motorista não esteja satisfeito com alguma coisa e resolva descontar nos passageiros. Não importa se vc está grávida e carregando uma criança no colo, se tem mais de sessenta anos, se é aleijado, preto, branco ou amarelo. Não importa se você desejar um bom dia, muito menos se você quis colaborar comprando o passe para facilitar o serviço dele. Se ele quiser, pode ter certeza, nenhum motivo é suficiente para que ele ande na velocidade segura. Ou melhor, para que ele respeite as leis e os passageiros.

Próximo passo? Rezar para ter assento. Ou dar a sorte de ser homem. Porque ser mulher já não é fácil, e quando tem certos seres que não conseguem fazer outra coisa além de babar em todas as mulheres que passam, fica mais difícil ainda. E não importa se você é loira, morena, careca ou cabeluda. O importante, para eles, é mostrar a todo momento a incapacidade de autocontrole que o homem tem sobre o seu instinto animal. Deselegantes, no mínimo! Para não descer do salto e falar tudo aquilo que realmente me vem à cabeça qdo me vejo envolvida, direta ou indiretamente, numa cena dessas. Ok, essa culpa já não é mais do motorista. Tudo bem, eu admito.

Sentou? Agradece. Não sentou? Se encosta em algum canto, e faz cara de brava. Talvez ajude.

Tá chegando? Respire aliviado. Afinal, você ainda é um privilegiado em meio a milhões de desempregados que nem ao menos podem passar por esse tipo de nervosismo, pois não tem emprego para ir, muito menos dinheiro para pagar os benditos R$ 2,20.

E não ter emprego pode significar não ter o que comer nem onde morar.

Isso sim deve irritar! Será que ser motorista de ônibus é pior do que não ter emprego? Porque viver emburrado e com raiva do mundo, não vai aumentar o seu salário. Descontar em idosos que provavelmente também já viveram muitas injustiças durante suas vidas, não vai melhorar o tráfego. Fingir que não compreende os absurdos e problemas que existem no mundo, e não parar no ponto (sendo que essa é a sua função) para dar o direito que as pessoas tem de pegar a condução, não vai melhorar o seu dia, ou te fazer sentir melhor.

Tudo bem. Eu sei que o salário é ruim, que a carga horária é massante, que é difícil viver feliz nessas condições. Mas, o que o resto das pessoas que também estão na labuta, passando diariamente por problemas diversos, tem a ver com isso? Essas pessoas pegam ônibus. Não são detentoras de poder aquisitivo. E pode ter certeza, se tivessem, não passariam por esse tipo de situação. E se todas pudessem comprar seu carro, motorista seria sinônimo de desempregado.

Esse tipo de atitude não vai ajudar. Você vai ser apenas mais um. Mais um a se enganar. Mais um equivocado que acredita ter milhões de argumentos plaúsíveis para seus atos inpensados. Será apenas mais um a colaborar no processo acelerado de destruição da humanidade. Será igual àqueles que, egoistamente, pensam apenas em si, e que, ao invés de aumentar o salário dos trabalhadores motoristas que enfrentam o sol, a chuva, o trânsito, e o mau humor do patrão, usam do seu poder apenas para se beneficiar.

Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Carolina Bertholini Freudenthal

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